Escolas podem ser espaços para minimizar desigualdade social

Escolas podem reduzir desigualdes sociais
Foto: Freepik

Educação precisa caminhar junto à saúde, assistência social e educação socioemocional para garantir mudanças efetivas 

Com a aproximação das eleições e o abrandamento da pandemia, a escola volta a ganhar destaque como pauta pública. Apontada por especialistas como caminho para reduzir desigualdades sociais e regionais, a educação precisa caminhar junto à saúde, à assistência social e à educação socioemocional para garantir mudanças efetivas. 

Análises ressaltam o impacto da pandemia sobre a assimilação de conhecimento por parte de crianças e jovens e o aumento das desigualdades educacionais. Conforme a professora e secretária de educação do município de Santana do Ipanema (AL) Andréa Cristhina Teixeira, em evento da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado (CDR), “a pandemia torna ainda mais significativo pensar na educação como estratégia de redução das desigualdades''. 

Andréa destaca a importância de garantir que os estudantes não apenas passem de ano, mas que adquiram o conhecimento mínimo necessário para avançar nos estudos e na vida profissional. 

O secretário estadual de educação do Rio Grande do Norte Getúlio Ferreira, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), considera que “a pandemia explicitou ainda mais as diferenças na área, e o Estado precisa intervir para acabar com essa disparidade”.

A importância da educação no combate à desigualdade

Como apontado no artigo “Educação, a oportunidade para combater a pobreza e a desigualdade social”, publicado na revista científica Educandi & Civitas em 2020, a pobreza e a desigualdade social são problemas que incidem sobre a maioria dos países, principalmente nos subdesenvolvidos e não desenvolvidos. Isso acontece porque não há equilíbrio no padrão de vida dos seus habitantes tanto no âmbito profissional quanto no econômico e, claro, no escolar. 

O objetivo do estudo foi promover uma reflexão acerca da importância da educação no combate à pobreza e à desigualdade social. Os resultados revelaram que as diferenças educacionais entre os cidadãos provocam disparidades no mercado de trabalho, o que, por sua vez, gera desigualdade de renda e culmina na carência econômica. 

Diversas são as causas da pobreza e da desigualdade social. No entanto, elas estão fortemente correlacionadas ao baixo nível de escolaridade, como destacado pela pesquisa. Para reverter esse quadro, são necessárias mudanças no sistema educacional — como a democratização do ensino de qualidade, inclusive para estudantes mais pobres e vulneráveis.

Além do ensino

Divulgado pelo Ipea, o estudo "Educação, desigualdade e redução da pobreza no Brasil” mostrou que optar apenas por uma política de expansão de ensino não seria suficiente para melhorar os salários e impactar na distribuição de renda no país. 

Na avaliação dos pesquisadores, a redução da desigualdade poderia ser alcançada mais rapidamente com medidas contra a discriminação de cor e de gênero no mercado de trabalho, reforma tributária e programa de aumento progressivo dos impostos. 

Em entrevista à imprensa, Rogério Barbosa, um dos pesquisadores do estudo, relatou que a educação é um requisito de cidadania que oferece diversos ganhos sociais. Todavia, ela não é tida como única credencial para salários melhores. Segundo Barbosa, “os aumentos do salário mínimo, por exemplo, foram a principal política distributiva na década de 2000, sendo muito mais rápida e efetiva do que a educação". 

Para obter um resultado melhor na queda da desigualdade, além da educação básica e do ensino médio, o Brasil precisa massificar o acesso à universidade — que foi expandido, mas ainda precisa ser mais para ter impactos realmente significativos. 

Efeitos da pandemia ainda são sentidos 

Para o estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”, lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a escolarização contribui para a melhoria das possibilidades de trabalho e de renda. Além disso, tem reflexos também na prevenção de doenças e na superação de desigualdades sociais e econômicas.

A pesquisa constatou que o Brasil tem quase 1,4 milhão de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos fora da escola. Concluiu, ainda, que mais de 5,5 milhões de brasileiros nessa faixa etária não tiveram acesso a atividades escolares em 2020 por causa da pandemia. O estudo foi feito em parceria com o Instituto Claro e produzido pelo Cenpec Educação. 

Os dados foram extraídos de pesquisa realizada pelo IBGE no último trimestre de 2021, em relação aos impactos da Covid. O percentual de alunos entre 6 e 17 anos que não frequentavam a escola foi de 3,8% (1,38 milhão) — número maior que a média nacional de 2019, que foi de 2%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). 

Em relação ao abandono escolar, as maiores taxas (9,9%) estão nas regiões Norte e Nordeste do país, e em áreas rurais. Além disso, aproximadamente 70% daqueles que não têm acesso à educação são pretos, pardos e indígenas, segundo a classificação do IBGE.

É preciso reverter evasão escolar

Em comunicado geral, o chefe de Educação do Unicef Ítalo Dutra defende que as causas da exclusão escolar e das desigualdades sociais estão para além daquilo que o setor educacional pode dar respostas. 

É necessário, portanto, que haja um esforço em conjunto ao sistema de garantia de direitos, como assistência social, esporte, cultura e saúde. Eles contribuem para que as causas que levam à exclusão escolar sejam mitigadas e para que os estudantes possam realmente estar na escola aprendendo.

Para reverter a exclusão, o estudo do Unicef faz recomendações como realizar a busca ativa de crianças e adolescentes que estão fora da escola, mobilizar as escolas para enfrentarem a exclusão escolar e fortalecer o sistema de garantia de direitos para que crianças e adolescentes permaneçam na escola ou retornem a ela. 

Em matéria divulgada na Agência Senado, especialistas avaliaram que o retorno às aulas presenciais em 2022 deixou claro um quadro desafiador, que inclui recuperar o conteúdo não incorporado nos últimos dois anos e curar sequelas psicossociais que atingem alunos e professores. 

Além de recuperar o tempo perdido com a pandemia, os gestores da educação precisam encontrar os alunos que abandonaram a escola nesse período. Desde o início da crise sanitária, o projeto Busca Ativa Escolar — parceria do Unicef com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) — identificou e fez a rematrícula de cerca de 80 mil crianças e adolescentes que estavam fora da sala de aula. 

O Unicef alerta também para a necessidade de reforçar a aprendizagem neste momento, uma vez que o fechamento dos colégios na pandemia teria prejudicado o ensino.

 Texto: Luiz Mehl

0 Comentários